sábado, 18 de junho de 2011

O nascimento do poeta

De repente a morte chegou
Inexplicável e sorrateira
Retirou-me alma e espírito
Lançou sobre tudo um cinza
Eternizou o entardecer
Não era mais nem dia nem noite
O único movimento constante
Era a precipitação das águas
Que lançavam-se ao solo
Num espetáculo suicida
Integrando-me à própria natureza
Elevando o meu sofrimento
A angústia de todo o universo

Ainda percebo-me
Minha morte não foi completa
Pois sabendo quem não sou
De certa forma estou aqui
Esta observação dolorosa
Quase levou-me à loucura
Visto que enquanto inexistente
Presencio a minha ausência

Neste momento inexplicável
De expectativa escatológica
Sinto sinais vitais crescentes
Manifestando-se energéticos
No interior da matéria morta

Como a mãe que vislumbra
O filho além da carne
Extrapolo as leis do entendimento
E vislumbro o movimento
do poético embrião.

O homem morto e o poeta
São criaturas muito diferentes
Mas se alimentam de tristeza
Solidão, desamor, desilusão
E duma paixão eterna
Quase herança genética
Que se perpetuou

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