sábado, 14 de maio de 2011

O legado da Copa de 2014 será POXIFRATADO?


 O Brasil descobriu o filão da exploração econômica do esporte a partir da organização de grandes eventos mundiais. No intervalo de apenas 9 anos, teremos sediado os Jogos Panamericanos, a Copa do Mundo de futebol e os Jogos Olímpicos. Tal conjunto de eventos deste porte, num intervalo de tempo tão reduzido, no mesmo país, é um feito inédito. A captação de recursos para a realização de cada evento é extraordinária, e traz para o cotidiano da imprensa, dos políticos e da sociedade o vocábulo mais pronunciado do presente século: legado. Segundo Michaelis, legado " é a disposição, a título gracioso, por via da qual uma pessoa confia a outra, um testamento, um determinado benefício, de natureza patrimonial...". Para exemplificar de maneira concisa a real amplitude do termo, basta observar o exemplo de Barcelona. A capital catalã sediou os Jogos Olímpicos de 1992 e dividiu a sua história contemporânea em, antes e depois do evento. O charme europeu foi acrescido de uma modernização quase oriental, com a revitalização do transporte, da rede hoteleira, da infra-estrutura de toda a cidade, com o consequente implemento do turismo, o que foi revertido num real conjunto de melhorias que chegaram à população.
     A cidade do Rio de Janeiro deveria servir de exemplo para todo o mundo, especialmente para a América Latina, do poder de transformação que os megaeventos esportivos podem proporcionar, mas o exemplo do Pan não foi positivo. O Pan 2007 custou cerca de R$3,7 bilhões, 800% a mais que o previsto no orçamento inicial. O TCU (Tribunal de Contas da União) apontou irregularidades no uso da verba federal e até hoje, ninguém sabe muito bem que fim levou a dívida deixada pelo evento. O legado esportivo limitou-se à construção de equipamentos que ficaram abandonados após os jogos; como o Velódromo, por exemplo. Agora, o apelo da vez é pelo investimento na Copa de 2014, pelo seu suposto legado para a população. Em São Paulo, o nebuloso projeto da construção do estádio do Corinthians, que supostamente, sediará a cerimônia de abertura da Copa, foi reorçamentado para R$ 1 bilhão (por extenso, parece mais significativo: um bilhão de reais!). Então, cabe a pergunta: o legado é para o esporte ou para a população? O legado do Pan-2007 não extinguiu as enchentes na Praça da Bandeira, não levou saneamento básico à Baixada, não diminuiu a incidência dos casos de dengue na zona oeste... O legado do Pan-2007 não reduziu os engarrafamentos na Dutra e na Av. Brasil, não melhorou o atendimento dos hospitais da rede pública da cidade, não aumentou a segurança nas escolas públicas... O legado do Pan-2007 não impediu a tragédia na região serrana, não propiciou a relocação dos moradores do Morro do Bumba, não conteve as encostas da Grajaú-Jacarepaguá... Então, qual será o legado da Copa?
     Existem obras em curso na cidade do Rio de Janeiro: o metrô da Barra, a Transcarioca, a Transoeste, mas é bom não esquecer que o estado do Rio de Janeiro vai muito além da cidade, e que a cidade do Rio de Janeiro vai muito além da Barra da Tijuca. Os recursos captados na organização dos megaeventos poderiam chegar à Baixada e as zonas norte e oeste, com investimentos em saúde e educação, inclusive nos salários dos profissionais. A inclusão digital (leia artigo, neste blog) aumentou o nosso poder pacífico de fiscalização. Por isso, após a divulgação do orçamento de um bilhão de reais, somente para a construção de 1 dos 18 estádios que serão construídos ou reformados para a Copa, sugiro a criação da hashtag #eufiscalizo2014 , para a postagem de quaisquer notícias que envolvam quantias vultuosas de investimentos no evento. E aí, vamos fiscalizar? #eufiscalizo2014
     A propósito, o termo "poxifratado" não existe, não significa nada! Foi um engodo motivacional para a leitura do artigo! Será que o legado também será um engodo motivacional para o apoio da população à Copa?
Obs.: O fato polêmico é o orçamento de R$ 1 bilhão para a construção de um estádio, com apoio do setor público, para o início da Copa. O time e a torcida, evidentemente, não estão em cheque, mas a negociata, sim! #eufiscalizo2014

(Marcelo Marques é professor, escritor e humorista. Tem um stand up em fase de captação de patrocínio. A próxima postagem será sobre CULTURA). Gostou? Siga...